7 Experimentos arquitetônicos que falharam completamente

Mayer Fischer
By Mayer Fischer

A experimentação em arquitetura é o que impulsiona a disciplina para frente. Em um cenário ideal, na fase de planejamento de um projeto são realizadas cuidadosas investigações numa colaboração entre o arquiteto, o empreiteiro e o cliente para que a ideia inicial seja executada de forma tranquila e, finalmente, o produto final seja bem-sucedido. Mas não é incomum, mesmo para os arquitetos mais qualificados, cometer erros ao longo do processo, seja por conta de uma redução de orçamento, imprevistos, falta de supervisão, ou qualquer coisa neste sentido. De alguma forma, todos os projetos aqui caem na categoria de experiências que falharam, mas alguns também se tornaram potenciais modelos para revitalização de edifícios existentes, ao invés de resultar em demolição e reconstrução (o que seria menos sustentável). Continue a leitura para descobrir o que deu errado nestes notáveis desastres.

20 Fenchurch Street, Rafael Viñoly (inaugurado em 2014)

Também conhecido como “Walkie Talkie”, a singular forma deste edifício buscou maximizar o espaço nos pisos superiores, os quais atraem aluguéis mais altos. Originalmente, ele foi projetado para ser ainda maior, mas foi encurtado em alguns metros para preservar as vistas em direção a edifícios mais antigos no skyline de Londres. No entanto, após a construção, os londrinos rapidamente perceberam que o projeto poderia prejudicar muito mais do que o skyline da cidade.

A fachada de vidro ligeiramente curvada do edifício reflete a luz em feixes concentrados tão fortes que chegam a derreter carros e iniciar incêndios. Depois de ter causado estragos na cidade, a edificação está agora parcialmente coberta com um tecido protetor para evitar que a luz solar seja refletida a partir do vidro, mas ainda está sendo acusada de direcionar poderosas rajadas de vento para baixo, em direção ao nível da rua.

Edifício Ponte City, Manfred Hermer (inaugurado em 1975)

Ainda mantendo seu título de torre residencial mais alta do continente, Ponte City foi construída em 1975, em Joanesburgo na era do apartheid, projetada para uma vida luxuosa e que se negava a alugar seus apartamentos a qualquer cliente que não fosse branco. O edifício cilíndrico possui 55 andares de unidades residenciais com espaço de comércio na base, todos construídos em torno de um grande pátio central. O plano de opulência e exclusividade racista sofreu uma contra-explosão quando o bairro sofreu um aumento da criminalidade nos anos 80 e 90 e os moradores originais se mudaram, transformando Ponte City em uma “favela vertical”, e seu pátio em um grande reservatório de lixo que chegou a uma altura equivalente a cinco andares.

Apesar de sua péssima reputação, a torre foi adquirida por novos proprietários em 2001, e desde então recuperou um pouco de seu esperado estilo de vida confortável. O edifício agora tem 24 horas de vigilância para combater as preocupações de segurança e seus encanamentos e sistema elétrico foram restaurados depois de décadas de deterioração. Mas o legado racista sob o qual foi fundada não desapareceu completamente, sendo as unidades superiores mais caras ocupadas com maior frequência por inquilinos brancos.

Pruitt-Igoe, Minoru Yamasaki (inaugurado em 1954)

O empreendimento de habitação pública de Pruitt-Igoe foi construído para fornecer casas a preços acessíveis para a crescente população de baixa renda de St. Louis, nos Estados Unidos. Trinta e três torres de 11 andares foram construídas de acordo com os princípios modernistas da Ville Radieuse de Le Corbusier, onde carros e pedestres eram separados por grandes edifícios em forma de laje e trechos de espaços verdes. Pruitt-Igoe abriu-se a residentes entusiasmados que ficaram encantados com as comodidades e o senso de comunidade que era oferecido – uma mudança bem-vinda em relação às habitações superlotadas que até esse ponto se configuravam como suas únicas opções de moradia.

Uma combinação de fatores políticos e econômicos resultou em um orçamento desafiador para construção do projeto de Yamasaki, e a aplicação de métodos de construção mais baratos logo revelaram falhas estruturais que variaram de inconvenientes a perigosas. Uma combinação complexa da saída de pessoas brancas do centro da cidade (causada em parte pela desagregação das escolas públicas da cidade), o aumento da criminalidade e o declínio econômico geral de St. Louis fizeram parte da curta história de Pruitt-Igoe e contribuíram para sua abrupta demolição em 1972. Um documentário recente detalha a história completa e complicada de Pruitt-Igoe dentro de seu contexto urbano como a “morte do modernismo” nos Estados Unidos.

Torre KOMTAR, Architects Team 3 (inaugurado em 1986)

Na década de 1960, um plano diretor para George Town, na Malásia, foi desenvolvido para criar um novo centro urbano com o objetivo de revitalizar a área. O KOMTAR era identificado como o arranha-céu central que combinaria restaurantes, lojas e escritórios administrativos para o governo de Penang, com uma passagem elevada para pedestres.

No entanto, a revitalização não aconteceu: o processo de construção deslocou bairros inteiros de moradores de George Town, e restaurantes e lojas existentes foram demolidos para dar espaço ao arranha-céu. A passagem para pedestres nunca foi executada. Muitos dos comerciantes originais se mudaram e o prédio vazio caiu em ruínas. O projeto destruiu o que pretendia ajudar a gerar. Nos últimos anos, o KOMTAR tem sido lentamente revitalizado com a instalação da maior passarela da Malásia e do mural mais alto do mundo, e de um elefante branco está se transformando em um ponto de referência vivo e animado.

Casa Farnsworth, Mies Van der Rohe (concluída em 1951)

Para a Casa Farnsworth ser considerada um fracasso, depende fortemente para quem – ou mais crucialmente, quando – você pergunta. Depois de deixar a Alemanha no fechamento da Bauhaus e então projetar vários edifícios para o Instituto de Tecnologia de Illinois, a Casa Farnsworth de Mies van der Rohe foi o primeiro projeto de uma residência do arquiteto modernista nos Estados Unidos. O projeto foi encomendado pela Dra. Edith Farnsworth, uma proeminente nefrologista de Chicago, com o intuito de ser um retiro de fim de semana em Plano, Illinois. A casa é agora um exemplo respeitado do cânone modernista, mas no momento de sua conclusão em 1951, foi uma decepção para Farnsworth e um pesadelo de publicidade para Mies.

Respondendo à propriedade de 64 acres subdesenvolvida de Farnsworth, o conceito do arquiteto visava minimizar a separação entre o ser humano e a natureza. Paredes de vidro completamente transparentes foram colocadas entre superfícies planas e brancas, cobertas apenas por mínimas vigas de aço. Infelizmente, Farnsworth se sentiu extremamente desconfortável na casa, e descreveu sentir-se “como um sentinela de guarda o dia todo”. O projeto ficou significativamente acima do orçamento, e Farnsworth se recusou a pagar a diferença por uma casa que ela descreveu como “quase nada”. Mies processou por falta de pagamento, e Farnsworth processou por fraude e engano. Mies ganhou o caso, mas a cliente nunca ficou satisfeita com sua casa e a vendeu para o colecionador Lord Peter Palumbo em 1975.

Cidade do Esporte, Santiago Calatrava (começou em 2007)

Logo após completar a sua icônica Cidade das Ciências em Valência, Calatrava projetou a Cidade do Esporte, em Roma: uma coleção de instalações atléticas para a Universidade de Roma Tor Vergata. O primeiro edifício, um estádio de natação, foi criado para sediar o Campeonatos Mundial de Natação de 2009, mas o rápido aumento das estimativas de custos fez com que o projeto parasse sem estar perto de ser concluído. É estimado que o estádio tenha custado à população cerca de 200 milhões de euros, e seu esqueleto de aço ainda permanece armazenado ao lado da estrada como um lembrete cruel do fracasso do projeto. Curiosamente, a aparentemente abandonada Cidade do Esporte foi incluída na candidatura de Roma para os Jogos Olímpicos de 2024 – pelo menos, antes da oferta ser retirada.

Cidades-jardim, de Ebenezer Howard

No final do século XIX, Sir Ebenezer Howard publicou Cidades-Jardim de Amanhã, em que detalhava uma visão utópica de cidades “sem favelas e sem fumaça”. A Cidade Jardim era caracterizada por uma coleção de centros inter-relacionados, cada um com programas individuais, que irradiavam de um distrito cultural central. As cidades tinham seções dedicadas para agricultura e indústria, que por sua vez eram separadas das áreas residenciais e de parque, permitindo a autossuficiência e a abundância de espaço natural. Quando a cidade alcançasse uma população de 32.000 pessoas, uma nova começaria, impedindo que a primeira crescesse demais.

O modelo Cidade-jardim foi usado em todo o mundo ao longo do século XIX, inclusive nas Américas e ex-colônias britânicas na Ásia. O modelo tem sido amplamente criticado por facilitar muitos dos problemas que Howard queria evitar: em vez de mini-cidades autossustentáveis, muitas cidades-jardim se tornaram, na prática, subúrbios distantes na periferia de centros urbanos maiores e mais industriais. Elas também exigem uma densidade que alguns urbanistas têm argumentado ser incompatível com as preocupações modernas em relação ao meio ambiente e à expansão da população. Hoje, o conceito de cidade-jardim é mais frequentemente empregado como um recurso retórico, usado por políticos para obter apoio para novas políticas de habitação sem seguir os princípios reais da ideia original de Howard.

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