Um dos casos é da cidade da cidade de Fordlândia, criada por Henry Ford nos anos 20, mas a aventura americana acabou abandonada.
Além das instalações industriais, foram construídos bairros inteiros com jeito de filme de Hollywood. Mas as casas, ótimas para os Estados Unidos, eram muito quentes para o Brasil. E houve outros choques de culturas. “Queriam implantar no caboclo a cultura deles. Queriam que o caboclo comesse prato de verdura, a alimentação deles, e teve briga. Estavam armados com facas”, conta a professora Maria Raimunda Rodrigues.
Conflitos como esse, da batalha do peixe com farinha contra o hambúrguer e o espinafre, são só um sintoma de um problema muito maior, responsável pelo fracasso não só desse, mas de muitos outros projetos na Amazônia: a falta de conhecimento sobre a região por parte dos forasteiros.
Os americanos não sabiam que no meio da floresta as pragas que atacam as seringueiras têm inimigos naturais, mas com queimadas e desmatamentos e seringueiras plantadas a céu aberto… “Todo seringal tem lagarta. Quando apareceu no seringal, foi um desgosto”, lembra Olinda Branco, moradora da região.
Olinda acaba de completar 100 anos. O marido era dono de um antigo crachá. Eles estiveram entre os três mil funcionários que a empresa chegou a reunir. A aventura americana não teve final feliz. Acabou em abandono, nos anos 50. “A vida era boa”, diz a senhora.
Outro projeto ambicioso foi a Rodovia Transamazônica, milhares de quilômetros cortando a floresta, para integrar a Amazônia ao restante do país, bandeira do regime militar, nos anos 70.
Roberto Rodrigues trouxe a família do Maranhão para o Pará. O nome do lugar: Medicilândia. Foi homenagem ao general, e então presidente, Emílio Garrastazu Médici.
“Quem chegou primeiro, recebeu muita coisa pelo governo. Depois, cortaram tudo”, conta Roberto. Da primeira leva de colonos, a maioria desistiu e foi embora. Mas uma família resistiu e floresceu. São 12 filhos, 27 netos, 9 bisnetos.
E o município frutificou. Medicilândia é o maior produtor de cacau do Brasil.
A Transamazônica deveria chegar até Benjamim Constant, na fronteira com o Peru. Esse trajeto deve ter mudado a vida da cidade de Lábrea, no meio do caminho, certo? Errado.
O Rio ainda é o principal caminho para chegar ou sair de Lábrea. São sete dias de navegação até Manaus. Apesar de a cidade estar junto a uma das maiores rodovias brasileiras, a BR-230, a Transamazônica que, na verdade, termina bem no centro da cidade, onde se formou uma espécie de pracinha, com uma lanchonete, uma casa de jogos eletrônicos, um cibercafé, bem no caminho da rodovia.
Na Transamazônica que existe, a partir de Lábrea, levamos algumas horas para rodar pouco mais de 100 quilômetros. “Hoje, ela funciona só no verão. Na época do inverno, passa um tempo, fecha. Não conseguem passar, tem lama demais”, comenta o funcionário público Francisco Ricardo Marinho.
Travessias em balsas primitivas, em vez de pontes. Às margens da estrada, vários projetos de cidades que ficaram pelo caminho. “Aqui tinha que dar continuidade ao projeto da Transamazônica”, afirma o prefeito de Lábrea, Gean Campos de Barros. “Hoje, é possível conciliar meio ambiente com desenvolvimento. A Amazônia é uma riqueza”.